domingo, setembro 25, 2005

Introdução

Atualmente, percebemos intuitivamente que nos encontramos no limite de tolerância que a natureza suporta e estamos vendo se aproximar um colapso. Nos colocamos pressionados contra a parede juntamente com tartarugas, beija-flores, jacarandás, margaridas, peixes-bois e milhares de outras espécies. Por conseguinte, estamos sedentos de informações que nos auxiliem a reaorientar nossa cultura de forma que possamos participar sadiamente da evolução da vida no planeta Terra.
O envolvimento de todas as comunidades nas questões ambientais é fundamental para um futuro humano sustentável. Nós viemos da Terra e pra ela vamos voltar. Portanto, nossa tarefa aqui é nos unir para elaborarmos ações de bem cuidado da nossa morada e das pessoas que nela habitam, para vivermos a abundância permanente, repartindo os excedentes, sendo solidários uns com outros.
Na realidade e de tamanhas proporções, as soluções para os problemas sociais, ambientais e econômicos que a humanidade enfrenta atualmente, estarão cada vez mais escassas, na proporção em que os ecossistemas se deterioram. Ainda assim, os caminhos em busca destas eco-soluções emergentes, nos servirão como desafios para a aprendizagem e conservação dos ambientes em que vivemos. Em conjunto, estas ações derevão estar alicerçadas nos sistemas de educação de cada região, para que a população se envolva e apóie as mudanças necessárias para alcançá-las.
Uma comunidade sustentável é geralmente definida como aquela capaz de satisfazer suas necessidades e aspirações sem reduzir as probabilidades afins para as próximas gerações. Esta é uma exortação moral importante. Nos lembra a responsabilidade de transmitirmos aos nossos filhos e netos um mundo com oportunidades iguais as que herdamos. Entretanto esta definição não nos diz nada a respeito de construirmos uma comunidade sustentável. O que nós precisamos é de uma definição operacional de sustentabilidade ecológica.
A chave para tal definição operacional é a conscientização que não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas que podemos modelá-las seguindo os ecossistemas da natureza, que são as comunidades sustentáveis de plantas, animais e micro-organismos. Uma vez que a característica notável da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de forma que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida. (CAPRA, 2003)
A busca de resoluções sócio-ambientais, implica que o primeiro passo correlacionado ao nosso empenho para construir comunidades sustentáveis deve ser em direção a “alfabetização ecológica”, i.e., entender os princípios de organização evolutiva dos ecossistemas na sustentação da teia da vida.
Quando GADOTTI (2000, p.42), refere-se aos problemas atuais, inclusive os problemas culturais e ecológicos de nossa educação, alerta que: ... são provocados pela nossa maneira de viver, e a nossa maneira de viver é inculcada pela educação, pelo que ela seleciona ou não, pelos valores que transmite, pelos currículos, pelos livros didáticos e também pelos livros de filosofia. Reorientar a educação a partir do princípio de sustentabilidade pode vir a significar, retomar nossa educação em sua totalidade, implicando uma revisão de currículos e programas, sistemas educacionais, do papel da escola e dos professores, da organização do trabalho escolar. A eco-alfabetização é o primeiro passo na estrada da sustentabilidade. O segundo passo é movimentar-se da eco-alfabetização para o eco-planejamento, ecodesign[1]. Temos que aplicar nosso conhecimento ecológico para o replanejamento fundamental de nossas tecnologias e instituições sociais, de modo a estabelecermos uma ponte entre o planejamento humano e os sistemas ecologicamente sustentáveis da Natureza.
Para isso, sistematizar um processo de aprendizagem em design ecológico nas comunidades escolares, envolvendo crianças e adultos com o paisagismo pedagógico[2], criando áreas nas dependências das escolas para uso como recurso ecodidáticos, vem a ser um fecundo meio para se exercitar os princípios da ecoalfabetização e do ecodesign. Um pátio, uma sala, um jardim, um quintal ou um sítio para crianças é uma idéia entre muitas que pode ser desenvolvida com tal propósito.
A proposta do experimento educativo “Sítio Pedagógico – ecossitemas de aprendizagem” vem de encontro a esta realidade com soluções pedagógicas simples, viáveis e estimulantes para serem aplicadas no ambiente escolar. O objetivo é implantar um processo de formação ecológica dentro das escolas, para ser elaborado junto ao currículo, incorporando práticas ecopedagógicas sustentáveis, interdisciplinares e transversais à rotina escolar. Para isso, propõe a qualificação e ecoformação da comunidade escolar como um todo (pais, alunos, professores, diretores, faxineiros, merendeiras, comunidade, etc.) em atividades práticas e teóricas relacionadas a ecopedagogia (eco-alfabetização) pela permacultura [3] e seus campos pedagógicos emergentes[4] emergentes. Isto tudo, sendo proporcionado por uma vivência de autogestão pedagógica [5]que promova uma cultura permanente da paz, de vida, de saúde e amor, e que seja sustentável em escala bioregional das comunidades. Estas áreas emergentes do conhecimento são sugeridas como: segurança alimentar, design ambiental, energias renováveis e tecnologias alternativas, gestão de ecossistemas e economias locais. Essas categorias representam uma espécie de “sinal dos tempos”, isso é, assinalam para uma certa direção, um caminho a seguir rumo a uma pedagogia viva, da unidade, na conturbada paisagem atual de confrontação de tendências educacionais. São campos do saber relativos a uma educação emergente, para se instituir uma cultura sustentável e assim, engendrar os meios necessários para viabilizarmos a nossa sobrevivência planetária nas próximas décadas.
Para a qualificação nestas áreas, serão realizados encontros e oficinas ecopedagógicas semanais, totalizando 64 horas/aula, onde serão propostos e desenvolvidos ecossisistemas pedagógicos sustentáveis a serem implementados na escola através de oficinas de ecoconstrução e bioarquitetura. O experimento envolve atividades práticas e teóricas, buscando maneja-las permanentemente, integrando à metodologia de ensino, bem como às condições e contexto das escolas.
As atividades propostas visam desenvolver estratégias educacionais continuadas que assistam o currículo, buscando inspirar maior integração entre as disciplinas e as práticas educacionais. Foram desenvolvidas para transcender a sala de aula convencional para a sala de aula ao ar livre.
O processo de autogestão pedagógica, envolve também a implantação de um núcleo gestor do sítio pedagógico nas escolas, elaboração de dispositivos de gestão paticipativa, como por exemplo o diário de bordo, o diário do tempo, planilhas e questionários de diagnósticos, a criação e implementação de designs ecológicos nas escolas, com a participação de professores, estudantes, funcionários, pais e comunidade local.
Desta maneira as escolas caminharão para se tornar responsáveis por uma educação que estimule os estudantes e a comunidade a construirem um futuro em que possam viver com os recursos necessários, sem esgotar o meio natural, causando um impacto positivo no ambiente escolar e em sua comunidade, sendo agentes multiplicadores de uma educação permanente e que sustente a vida.
[1] Sistema ecológico de design. Ciência da conexão. Em sua acepção mais ampla, design que dizer: desenho, planejamento (projeto) e execução. [2] Que é a utilização do paisagismo criativo nos espaços escolares como motivador da aprendizagem. [3] Sistema de design ecológico, de culturas permanentes, que integra energias renováveis, produção de alimentos orgânicos, edificações ecológicas e educação para uma vida sustentável. [4] Emergentes por constatação da rápida deteriorização causada pelo homem nos ecossistemas da Terra. São medidas emergênciais, tomadas como prioridade operacional por vários movimentos sociais mundiais que se dedicam em promover a paz e a cura planetária. [5] É a distribuição do poder entre professores e alunos, ao selecionar as atividades, os conteúdos, os materiais, o espaço e o tempo das atividades educativas.